Preocupa-me esta situação da geração dos nossos pais não entender que não vamos no futuro poder deixar casas aos nossos filhos, ou outro património equivalente e que nos tempos deles se comprava tão rápido como uma ida ao supermercado.
98% da minha geração não consegue comprar casa, os bancos fecharam as torneiras, implicam connosco, não há nenhum emprego que seja 100% garantido, não temos bens patrimonias para hipotecar, quem tem negócios ou trabalha em nome individual só tem direito a 65% do financiamento e mesmo assim, em alguns bancos, nem isso. Há muitos entraves que nos obrigam a recorrer ao arrendamento e a deixar de lado o sonho de ter uma casa, mesmo que ela só seja oficialmente nossa 40 ou 50 anos depois.
Os nossos pais perguntam-se, "mas se vais arrendar não vais ter uma casa para deixar aos teus filhos". É verdade, não vamos ter hipótese de deixar um legado tão material quanto esse, uma casa, um carro, a poupança de uma vida na conta bancária ou uns terrenos algures no meio de uma zona florestal. Mas é isto que marca a diferença.
A nossa geração vai ter a possibilidade de mostrar que o legado que podemos deixar às gerações futuras, não são bens materiais, são valores morais, são demonstrações de que para se ter é preciso lutar, trabalhar mais, equacionar gastos, perceber que se queremos uma casa não é o banco que a tem de pagar, somos nós. Porque foi assim que chegámos a isto, a esta situação miserável de uma economia tão frágil quanto o bolso de um mendigo.
Foi assim, pelo pensar de gerações passadas que chegamos ao que chegamos. Desculpem a generalização, mas fomos mal habituados e estamos agora, a minha geração e as futuras, a pagar uma factura que nem para despesas dá.
Possamos nós deixar um melhor legado aos nossos filhos.