8 de novembro de 2008

Morre lentamente...

Morre lentamente quem não viaja, quem não lê,
quem não ouve música,
quem não encontra graça em si mesmo.

Morre lentamente quem destrói o seu amor-próprio,
quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito,
repetindo todos os dias os mesmos trajetos,
quem não muda de marca, não se arrisca a vestir uma nova cor
ou não conversa com quem não conhece.

Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru.

Morre lentamente quem evita uma paixão,
quem prefere o negro sobre o branco
e os pontos sobre os "is" em detrimento de um redemoinho de emoções
justamente as que resgatam o brilho dos olhos,
sorrisos dos bocejos, corações aos tropeços e sentimentos.

Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz,
quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho,
quem não se permite pelo menos uma vez na vida fugir dos conselhos sensatos.

Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da sua má sorte ou da chuva incessante.

Morre lentamente quem abandona um projeto antes de iniciá-lo,
não pergunta sobre um assunto que desconhece
ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.

Morre lentamente...
Pablo Neruda

6 comentários:

poeta_rural disse...

adorei.parabens pelo excerto do texto e também pelo blog =)

Andreia disse...

Tu não morras assim lentamente!

Eduardo Ramos disse...

E lendo isto... só podemos concluir que vivemos num país que vai morrendo lendamente.

Luis Prata disse...

Será então que eu morro rapidamente? :) Tantas pessoas que lentamente conheço assim...

Excelente texto, e um share!

Beijinhos

Marco Rebelo disse...

o neruda ..sabia escrever..e bem :)

Cristina Silva disse...

Muito bonito, Lídia. Bem escolhido, de tantas coisas lindas que Neruda escreveu.
Um abraço

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