Vai daí e agora o namorado não fala noutra coisa, é a música dos "Maridos das outras" para cá, "Maridos das outras", para lá. A música do Miguel Araújo parece ter-se infiltrado em qualquer discurso dos seres do sexo masculino, parece que encontraram finalmente alguém que lhes dê a razão que tanto esperam, que lhes diga que andaram décadas a tentar dizer algo e agora alguém veio popularizar a coisa.
A música é gira, eu gosto, divertida e diz muita coisa que muitas mulheres pensam, mas há uma coisa a dizer: os homens das outras, por muitas vezes nos nossos diálogos femininos, são também motivo de chacota, de horrorização, de desprezo. Sim, sim! Não se enganem!
Como sabem, o ser do sexo feminino é altamente criticador, gosta muito de abranger toda a cultura que a rodeia nos diálogos que mantém, gosta muito de abordar outras vidas, de procurar outros exemplos, de se perguntar porque é que a vizinha sai às 23h00 e só chega às 06h00. Não quer dizer que todas nós sejamos assim, umas mais que outras, acho que todas temos um bichinho que nos faz pesquisar sobre o mundo que nos rodeia e querer saber mais. Não se preocupem, muitos homens também o são, generalizemos a coisa porque isto não é assim tão mau!
Mas se há coisa que nós gostamos de comentar é as relações das outras, das amigas, das próximas, das inimigas, das vizinhas, porque temos curiosidade em perceber o que nos diferencia delas nas nossas relações. Será que as atitudes do nosso marido/namorado são iguais às atitudes do namorado/marido dela? Será que nós somos tão possessivas como ele diz, ou tão desprendidas como ele não quer que sejamos? E acabando por matar estas e outras tantas perguntas, e percebendo que o melhor é nós nos mantermos na nossa relação e dar o melhor por ela, acabámos por perceber que afinal os das outras é que são maus, horríveis, gordos, sebentos... por aí.
O Miguel Araújo não fez pesquisa de mercado quando escreveu a música, a verdade é que se nós somos seres altamente criticadores e estamos numa sociedade altamente criticadora, dizemos mais depressa mal do que bem, vai daí muito mais rapidamente dizemos "Já viste o namorado da X? Que sujeito feio! Veste-se tão mal! Eles não combinam nada...o meu homem dá 10 a 0 nele" ou então "o marido da vizinha é um sebento.. anda ali na varanda sem T-Shirt. Ainda se tivesse alguma coisa para mostrar...". Entre muitas cositas más... Não querendo desfazer a música do Miguel, se olharmos bem em redor, qual dos seres (feminino ou masculino) mais rapidamente olha para os companheiros/as das outras/os? Pensemos bem quem foi a última pessoa que vimos ter um acidente de automóvel porque estava a olhar para quem ia no passeio? Quem é que nós apanhámos a olhar muito descaradamente para alguém que acabou de entrar no café? Quem é que nós ouvimos fazer "uuuuiiii" quando passou alguém? Quem é que nós apanhámos a conversar sobre o mulherão do vizinho? Enfim, acho que já deu para perceber.
Entre arquétipos da perfeição, aquilo que nós acabamos por preferir está longe do que os maridos das outras são, a não ser que seja um Tom Cruise ou George Clooney, mas aí estamos a falar de OUTRAS e OUTROS seres "arquétipamente" falando.
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